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PLANTÃO POLICIAL

com PAULO MARQUES - Jornalista Reg. Prof. MTE-16408

Saúde

Coronavírus tem avançado mais rápido em cidades pequenas, mostra levantamento

Coronavírus tem avançado mais rápido em cidades pequenas, mostra levantamento
Yves Herman/Agência Brasil
  • 09/05/2020 - 19:45
  • Atualizado 09/06/2023 - 00:06

Depois de se disseminar pelas metrópoles e grandes centros urbanos do país, o coronavírus começa a chegar e a fazer vítimas numa velocidade preocupante nas pequenas cidades do país. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que, nas duas últimas semanas, houve um aumento muito grande, em torno de 50% de novos casos, nos municípios que têm até 20 mil habitantes.

Segundo os pesquisadores, o avanço da Covid-19 em direção às cidades menores revela uma situação preocupante em razão da menor disponibilidade e capacidade de seus serviços de saúde.

"O impacto do avanço da doença nos pequenos municípios está ligado ao fluxo de mais pessoas que precisam de atendimento especial", explica Mônica Magalhães, especialista em Geoprocessamento Aplicado à Saúde e Ambiente e pesquisadora do MoitoraCovid-19, projeto de monitoramento da pandemia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

De acordo com ela, o fluxo de pessoas de cidades menores em direção às maiores em busca de serviços médicos sempre existiu, sendo mapeado por estudos como o da pesquisa Regiões de Influência das Cidades (REGIC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Já vemos muito mais gente saindo dos municípios pequenos para os maiores, porque o número de casos de urgência é muito mais elevado do que a gente costuma acompanhar pelos indicadores de saúde, de uma maneira geral. Ou seja, está aumentando drasticamente a procura por serviços de internação e de UTI, que já vinham funcionando no limite durante o ano todo em situações normais."

Para fazer o levantamento, os pesquisadores levaram em conta as regiões de saúde da REGIC e dividiram os municípios brasileiros em "redes de atendimento em saúde".

"São grupos de cidades que apresentam forte interação entre si, considerando atendimentos a pacientes e serviços médicos", explica o geógrafo da saúde Raphael Saldanha, também pesquisador do MonitoraCovid-19.

De acordo com ele, basicamente, a pesquisa levantou quais municípios ou concentrações urbanas são procurados pela população quando tem de sair daquele em que mora para buscar atendimento médico.

"As regiões divulgadas agora são uma primeira aproximação e podem sofrer ajustes até o relatório final da pesquisa ser lançado", diz. "Dessa forma, enquanto as regiões de saúde do Ministério da Saúde são ditadas pelos entes federativos, as da REGIC se aproximam mais da do que é realizado em prática, pela população."

Depois essas redes foram classificadas como de baixa, média e alta complexidade, de acordo com três parâmetros: número de médicos, de leitos de UTI e de respiradores e ventiladores.

"Para cada um deles, buscamos um valor de referência", explica Mônica Magalhães. "Esses valores podem ser dados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou pelo Ministério da Saúde. Nesta análise, utilizamos valores de mais de uma fonte."

Em seguida eles verificaram as regiões que estavam acima ou abaixo desses valores de referência.

Considerando a totalidade das regiões de saúde, 70% delas já apresentam caso de contaminação pelo novo coronavírus e 30% já têm mortes. Outro dado preocupante é que metade daquelas para onde a covid-19 está se difundindo tem recursos de atendimento abaixo dos parâmetros recomendados para situações de normalidade — o que significa dizer que, para casos de pandemia, elas estão menos preparadas ainda.

Os pesquisadores avaliaram a evolução temporal da presença de casos de covid-19 por regiões de média e baixa complexidade, em dois períodos específicos, de 27 de março a 2 de abril e de 17 a 23 de abril.

No total das 758, o número daquelas com casos da doença saltou de 20,8% para 71,5% delas (158 para 542).

Nas 54 regiões com até 20 mil habitantes, o índice passou de 3,7% para 22,2% (de duas para 12); nas 192 com população entre 20 e 50 mil, a elevação foi 7,3% para 48,4% (de 14 para 93); nas 171 de 50 a 100 mil moradores, a porcentagem subiu 15,8% para 68,4% (27 para 117), nas 265 de 100 a 500 mil habitantes houve um incremento de 34,1% para 92,1% (de 92 para 244), e nas 76 com mais 500 mil moradores, o aumento foi de 30,3% para 100% (de 23 para 76%).

Fonte: Portal G1