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EXPRESSO 94

com ELISIANE LUDWIG

Agricultura

Há 60 anos, Horizontina deu o primeiro passo da mecanização agrícola brasileira

Há 60 anos, Horizontina deu o primeiro passo da mecanização agrícola brasileira
  • 06/11/2025 - 13:06

Em 1965, o Brasil vivia um momento decisivo para o futuro da agricultura. No município de Horizontina (RS), nascia a SLC 65-A, primeira colheitadeira automotriz fabricada no país, resultado de um ousado projeto da empresa gaúcha Schneider Logemann & Cia. (SLC). Seis décadas depois, o equipamento pioneiro segue preservado e em exposição no MEA - Memorial da Evolução Agrícola, espaço dedicado à história e às transformações tecnológicas do campo brasileiro.

A SLC 65-A representou um salto industrial e tecnológico inédito no Brasil. Fruto de anos de pesquisa e engenharia reversa, — que envolveu a compra e desmontagem de uma colheitadeira automotriz John Deere modelo 55, para compreender seu funcionamento —, a máquina nacionalizou o conceito de colheita moderna.

Lançada em 5 de novembro de 1965, a 65-A realizava as funções de ceifadeira e trilhadeira, com a grande inovação de ser autopropelida, ou seja, não precisava ser puxada por um trator ou animais. O feito foi extraordinário não apenas pela complexidade técnica do equipamento, mas por ter sido alcançado por uma indústria localizada no interior do Rio Grande do Sul.

A produção da 65-A simboliza o início da mecanização da agricultura brasileira e alçou o município de Horizontina como a capital da evolução agrícola no país.

De uma máquina pioneira à expansão industrial

O impacto da SLC 65-A foi imediato. De apenas uma unidade produzida em 1965, a SLC passou para 12 unidades no ano seguinte e, em poucos anos, fabricava centenas de máquinas. Em 1973, a empresa já vendia mais de mil colheitadeiras por ano, e em 1976, ultrapassava duas mil unidades comercializadas.

O avanço da produção impulsionou o desenvolvimento regional e projetou o nome de Horizontina no cenário nacional. A inovação gaúcha mostrava que o Brasil era capaz de dominar tecnologias de ponta e adaptá-las às realidades do campo.

Anos mais tarde, a SLC deu outro passo visionário ao associar-se à John Deere, líder mundial na fabricação de equipamentos agrícolas. A parceria resultou em um salto de modernização, com a incorporação de novas tecnologias que levaram a indústria de Horizontina a conquistar mais de um terço do mercado brasileiro de colheitadeiras.

A partir daí, as máquinas produzidas na cidade passaram também a ser exportadas para países como Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai, entre outros.

A força da memória e da inovação

No MEA - Memorial da Evolução Agrícola, a SLC 65-A está em exibição como testemunho vivo da transformação do campo. O espaço convida o público a conhecer de perto a trajetória da mecanização agrícola por meio de painéis, peças cenográficas, vídeos e experiências interativas que abordam temas como Ciência Aplicada à Agricultura, Mecanização e Tecnologia e o Avanço da Fronteira Agrícola.

“Celebrar os 60 anos da 65-A é reconhecer o valor da criatividade, da persistência e da visão de futuro que moldaram a história da agricultura brasileira. Cada visitante que conhece a colheitadeira entende que o progresso no campo começou com uma ideia ousada e muito trabalho coletivo”, reforça Karina Muniz Viana, diretora do MEA.