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com ALEXANDRE DE SOUZA

Polícia

Idoso é acusado de furto em hospital e esposa morre após confusão

Idoso é acusado de furto em hospital e esposa morre após confusão
  • 27/04/2020 - 23:21
  • Atualizado 28/04/2020 - 12:16

No sábado 18 de abril, o vigilante Everaldo da Silva Fonseca, de 62 anos, acompanhava, no Hospital Dom João Becker, em Gravataí, a esposa, Maria Gonçalves Lopes, 55. Ela havia sido internada um dia antes para tratar de uma cirrose. No entanto, segundo o hospital, durante a madrugada o celular de uma técnica de enfermagem desapareceu. E o idoso, de acompanhante de paciente, virou acusado de furto. As informações são do site Uol.

Segundo o idoso, que é negro, ele foi arrancado do quarto da esposa e levado para um corredor por funcionários do hospital. Lá, foi agredido e humilhado. Depois, foi expulso do hospital. A mulher de Everaldo, que assistiu à parte da confusão, teve um infarto e morreu duas horas depois do ocorrido.

Inconformado, Everaldo diz naquela sexta-feira, ele havia trabalhado doze horas seguidas, e foi para o hospital no início da noite para ficar com a esposa.

Por volta das 4h da manhã, segundo o vigilante, várias técnicas de enfermagem e um segurança do hospital, contratado por uma empresa terceirizada, entraram no quarto e começaram a revistá-lo.

"Eu estava do lado da cama da minha esposa. Ela viu tudo — eles não quiseram saber. Mexeram nas fraldas dela, nas cobertas, nas roupas, reviraram a cama dela", conta. Durante a confusão, Everaldo diz que a esposa começou a gritar desesperadamente para que eles parassem com a revista, mas não foi ouvida. Ele diz que tentou explicar que era trabalhador e que não havia roubado nada, o que também não adiantou.

Segundo o vigilante, enquanto ainda estava no quarto, ele percebeu que a mulher começou a passar mal, e apenas uma das técnicas que estava no local acreditou em sua inocência e tentou defendê-lo, mas os empurrões e as agressões verbais teriam continuado.

Após a confusão no corredor, o segurança do hospital teria expulsado o vigilante do local. Everaldo, no entanto, permaneceu na porta à espera de notícias de sua esposa. Minutos depois, o celular foi encontrado em uma sala de reuniões do hospital, ao qual o idoso não teria como ter acesso. Por isso, segundo Everaldo, a técnica de enfermagem foi pessoalmente buscá-lo na porta de entrada para dizer que tudo não passou de um mal-entendido.

"Para me agradar, ainda quiseram me dar um lanche, porque tudo tinha sido um equívoco, e me pediram desculpas em nome do hospital. Mas eu fui insultado, apanhei perto da minha esposa e falaram palavrão — daí ela entrou em choque", conta.

Everaldo revela que o pior de tudo que passou foi ver como sua esposa ficou mal rapidamente, sem que ele pudesse fazer nada. "Nunca tinha visto uma fisionomia daquela. Ela ficava pedindo socorro para mim com os olhos saltados, no maior desespero, e mesmo assim me expulsaram de lá de dentro", lamenta o marido.

De acordo com a família, a causa da morte no atestado de óbito foi descrita como desnutrição grave. Maria foi enterrada no domingo (19), no Cemitério Municipal de Gravataí.

O hospital abriu uma sindicância interna para averiguar os fatos, que foi finalizada na última quinta-feira (23). A Direção do Hospital Dom João Becker definiu pela rescisão unilateral do contrato de trabalho de três funcionários, cujo comportamento no episódio esteve em desacordo com o Código de Conduta da Instituição.

A Polícia Civil, por meio da Primeira Delegacia de Polícia de Gravataí, instaurou um inquérito para investigar o caso.

O delegado Márcio Zachello, responsável pelo caso, afirma que investiga três crimes diferentes. "Vamos apurar o crime de constrangimento ilegal, devido à revista indevida que ele alega ter sofrido; o crime de injúria racial, devido às ofensas com conotação racial que ele informa ter ocorrido, e o de lesão corporal, que vai ser apurado principalmente através do exame de corpo de delito", explica.

 

Fonte: Site Uol