Ouça agora

REDE GAÚCHA SAT

com REDE GAÚCHA SAT

Agricultura

Produtor deve adotar práticas de manejo do solo no inverno pensando na soja

Produtor deve adotar práticas de manejo do solo no inverno pensando na soja
Reprodução/Internet
  • 19/07/2020 - 21:51
  • Atualizado 20/07/2020 - 09:34

A estiagem deste ano voltou a confirmar a convicção técnica de que o bom desempenho das lavouras de verão, mesmo nas adversidades, depende de estratégias prévias que o produtor deve adotar, sobretudo no inverno. Entre elas estão análises e correção do solo, manutenção da cobertura vegetal, de preferência com espécies que descompactam o solo e facilitam a absorção de nutrientes pela lavoura seguinte e deixam palhada no chão, protegendo-o da erosão. E posteriormente, na primavera, recomenda-se o escalonamento do plantio com variedades de soja e milho que venham a florescer em momentos diferentes. Lavouras cultivadas em várias épocas ampliam a possibilidade de escapar de estiagens e aumentam a produtividade.

O assistente técnico estadual de manejo de recursos naturais da Emater/RS-Ascar, Edemar Streck, afirma que os produtores que viram os bons resultados do manejo estão mais atentos e muitos procuram adotar melhorias após a colheita da soja. Ele lembra que em verões chuvoso, como os três anos anteriores ao de 2020, a compactação do solo não se tornou problema, mas gerou erosão. A possibilidade de que o cenário de estiagem possa se repetir deve ser um incentivo para investimentos em conservação do solo com resultado a longo prazo.

Apesar da estiagem, as lavouras com assessoria técnica responderam com produtividade maior do que as que tiveram tratamentos mais simples. As produtividades variaram de 20 a 25 sacas a mais, relata o assistente técnico.

Edemar Streck explica que a agricultura conservacionista começa na correção da acidez (preparo do solo com aplicação de calcário para elevar os teores de cálcio e magnésio e neutralizar alumínio), fertilidade (capacidade do solo de ceder nutrientes para as plantas) até 20 centímetros de profundidade e descompactação.

O trabalho consiste em manter o solo sempre com cobertura vegetal para possibilitar a produção de três culturas no ano.

- Em maço, após a colheita da soja, semeamos uma cultura para cobrir o solo até o início das semeaduras de inverno, como trigo, aveia ou canola – relata Streck.

O técnico explica que a rotação de culturas com milho no verão é uma prática adotada para melhorar a qualidade do solo.

E por fim, a implantação de um sistema de terraceamento para reter a água da chuva que não infiltra no solo, evitar perdas por escorrimento superficial, disponibilizar mais água a propriedade e amenizar os efeitos das estiagens.

- O resultado será produtividade maior do que a daquelas lavouras que não utilizam os métodos conservacionistas – conclui ele.

O sistema de produção agrícola deve ser planejado para o solo não ficar descoberto em alguma época do ano. O período do vazio outonal, entre o fim da cultura da soja e o início das lavouras de inverno, é bastante crítico, o que deixa o solo desnudo e propício à erosão.

O agrônomo da Emater, Rafael Goular Machado, recomenda que neste período o produtor use plantas de cobertura, que vão proteger o solo contra a estiagem e também contribuir com a estruturação, porosidade e aprofundamento das raízes de soja que vierem no verão seguinte. Entre as várias alternativas estão as gramíneas deverão, que podem ser cultivadas após a soja, sem o objetivo de gerar colheita, mas com ganhos em estruturação do solo.

O milho é importante aliado da soja por contribuir para a descompactação do solo. Para evitar a compactação, o agricultor deveria cultivar, todos os anos, dois terços da sua área com soja e um terço com milho, rodando as áreas de modo que o milho seja cultivado, no mesmo terreno, uma vez a cada 3 anos.

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Trigo) em Passo Fundo, José Denardin, toma como base a série histórica, de 1977 até 2020, divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que demonstra a evolução da produtividade da soja no Rio Grande do Sul. O rendimento de 40 sacas por hectare, de 2001, é superior à média do período de 2002 a 2020 (39 sacas por hectare).

- A instabilidade da produtividade de soja no período de 2002 a 2020 foi fortemente afetada pelo clima associado à compactação do solo – afirma.

Nesta janela de 19 anos, houve oito safras abaixo e 11 safras acima da média, sendo que aquelas acima não foram suficientes para compensar aquelas abaixo da média. O solo, segundo ele, é o grande influenciador desse processo de estagnação de produtividade ocorrido a partir de 2002, lembrando que o terreno precisa ser estruturado por raízes mais agressivas, que é uma característica das gramíneas de verão.

- Nós não mais preparamos o solo com arado, grade e escarificador. Quem prepara para as culturas subsequentes são as raízes das plantas anteriores. O sucesso da soja está atrelado às condições de solo, pois ela não tem raízes capazes de descompactar o solo. Por isso, a importância do cultivo anterior de gramíneas de verão – explica o pesquisador da Embrapa.

 

Fonte: Com informações do jornal Correio do Povo