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EXPRESSO 94

com ELISIANE LUDWIG

Política

Careca do INSS não responde perguntas de relator, mas nega participar de fraude

Careca do INSS não responde perguntas de relator, mas nega participar de fraude
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
  • 25/09/2025 - 19:38

O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS", recusou-se a responder perguntas do relator da CPMI do INSS, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). Apontado pela Polícia Federal como lobista e operador financeiro do esquema que desviou dinheiro de aposentadorias, Antunes presta depoimento à comissão parlamentar mista de inquérito nesta quinta-feira (25/09).

Segundo o depoente, o deputado Alfredo Gaspar tem demonstrado parcialidade na relatoria da CPMI.

— Não responderei às perguntas elaboradas pelo relator. Segundo meus advogados, Sua Excelência disse, por mais de uma vez, que sou ladrão do dinheiro de aposentados, sem me dar a chance de defesa. O relator já me julgou e condenou sem sequer me ouvir. Tal conduta revela a quebra da imparcialidade que se espera de um agente público responsável pela apuração de eventual infração penal — disse Antunes.

Apesar da recusa, Gaspar fez questionamentos ao depoente: foram mais de 150 perguntas em 50 minutos. O relator quis saber, por exemplo, quais parlamentares, ministros e servidores públicos o empresário visitou. Questionou quando a estrutura criminosa foi montada na Previdência e se o empresário contou com aval de agentes públicos “para meter a mão no dinheiro de aposentados”.

Gaspar apresentou uma foto em que o “Careca do INSS” aparece na companhia de diretores do INSS e do atual ministro da Previdência, Wolney Queiroz. Na ocasião, em janeiro de 2023, Queiroz era secretário-executivo da pasta.

— Eu fico imaginando o senhor distribuindo brindes de milhões de reais a funcionários corruptos da Previdência Social. Fico me perguntando quanto essa turma recebeu do senhor, do dinheiro roubado dos aposentados e pensionistas — disse Gaspar.

O relator quis saber ainda se o “Careca do INSS” obteve informações prévias sobre a operação “Sem Desconto” da Polícia Federal, que revelou o esquema criminoso. O deputado pediu informações sobre o “crescimento patrimonial espetacular” que o depoente registrou entre abril e junho de 2004. Mas o empresário permaneceu em silêncio.

Referindo-se a Antônio Carlos Camilo Antunes como “quadrilheiro”, o relator disse que o depoente é “o autor do maior roubo aos aposentados e pensionistas da história do Brasil”. Ele disse que o “Careca do INSS” vai ser condenado e preso pelos crimes que cometeu.

— Quantas vezes o senhor confiou nos padrinhos poderosos, pensando que a impunidade ia ser a marca da sua vida? Hoje, o senhor está arrogante e prepotente. Mas em breve o senhor enfrentará o sistema prisional. O senhor hoje é um arquivo vivo, que, para alguns, vale muito mais morto do que vivo. Engana-se pensando que está protegido. Não vai tardar o dia em que o senhor estará numa cela, e seus amigos vão lhe tratar como uma doença contagiosa e infecciosa — disse Gaspar. 

Depoente preso

Antônio Carlos Camilo Antunes está preso preventivamente desde 12 de setembro. Segundo as investigações, ele teria movimentado R$ 24,5 milhões em apenas cinco meses. A suspeita é de que o “Careca do INSS” tenha pago propina a servidores graduados do INSS para facilitar descontos fraudulentos nas aposentadorias. Em uma das transações, teria repassado R$ 7,5 milhões a empresas de Thaisa Hoffmann Jonasson, mulher do ex-procurador do órgão Virgílio Ribeiro de Oliveira Filho.

Beneficiado por um habeas corpus do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), o “Careca do INSS” está desobrigado de prestar o compromisso de dizer a verdade.

Antes dos questionamentos do relator, o depoente fez um breve pronunciamento à CPMI. Ele classificou a prisão preventiva como “uma medida extremamente grave, baseada em premissa absolutamente equivocada”.

O empresário disse que as denúncias contra ele foram motivadas por “mentira, inveja e calúnia” de um antigo parceiro comercial “insatisfeito após reiteradas de extorsão frustradas”. Ele admitiu que uma de suas empresas prestou serviços a entidades responsáveis pelos descontos irregulares nas aposentadores. Mas negou participação no esquema.

— A minha empresa sempre prestou serviços a associações tendo como destinatário final o aposentado associado, mas sem qualquer ingerência ou responsabilidade sobre os descontos incidentes em seus benefícios previdenciários. Tais descontos eram realizados diretamente pelas associações. Caso algum aposentado tenha sofrido descontos indevidos, a responsabilidade a ser apurada recai sobre as associações que eventualmente promoveram a inclusão dessas pessoas em seus quadros associativos e sem a devida anuência — jamais sobre a minha empresa, que se limitava à prestação de serviços contratados por tais entidades — disse Antunes.

Acareação
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) propôs uma acareação entre o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes e o economista Rubens Oliveira Costa. Em depoimento à CPMI, Costa disse que uma empresa do “Careca” teria repassado dinheiro a duas firmas ligadas a servidores públicos.

O depoente desta quinta-feira concordou com a acareação. Eliziane Gama propôs ainda que ele firmasse um termo de colaboração premiada com a comissão, mas o empresário recusou.

— Sabe por que não cogito fazer isso? Porque não tenho nada que falar. Minha participação nesse mercado é privada. Não participo de qualquer associação, em qualquer grau de decisão que seja. Não teria por que fazer uma colaboração premiada, porque não tenho nada a acrescentar — disse.

O senador Jorge Seif (PL-SC) perguntou qual a ligação entre o “Careca do INSS” e o senador Weverton (PDT-MA). Segundo matérias publicadas pela imprensa, o empresário teria visitado o gabinete e participado de um churrasco na casa do parlamentar. O depoente disse que estava interessado no processo de regularização de produtos à base de cannabis.

— Na época, eu estava com a representação de uma marca internacional de produtos à base de cannabis. Fui ao “costelão” na casa dele (senador Weverton) para tratar do assunto. Não tenho pauta com o governo. A aproximação foi apenas para tentar entender como anda o processo regulatório de cannabis aqui no Brasil. Meramente isso — afirmou.

Questionado pelo senador Izalci Lucas (PL-DF), o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes atribuiu as denúncias contra ele a “desinformação e fake news”.

— Foi dado início a um enredo fantasioso sobre um personagem — esse “Careca do INSS, que não sou eu. Isso nada mais é do que uma narrativa fantasiosa. Nunca fui, não sou e nunca serei esse “Careca do INSS” que estão falando. Se eu tivesse qualquer intenção de sonegar e mentir, por que eu estaria aqui com um habeas corpus que me garante o direito de não estar aqui? — questionou o depoente.

Bate-boca
A reunião da CPMI chegou a ser suspensa pela manhã, após um bate-boca entre parlamentares e o advogado do depoente. O criminalista Cleber Lopes protestou depois de o relator, deputado Alfredo Gaspar, dizer que o advogado era “pago com dinheiro roubado do povo brasileiro”. Ao retomar a reunião, o presidente da comissão parlamentar mista de inquérito, senador Carlos Viana (Podemos-MG), pediu que “todos se manifestassem de forma ordeira, urbana e em respeito ao depoente”.

Fonte: Agência Senado